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Benemária

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 "Eu acredito que hoje em dia eu e meus passageiros já somos uma família"

Há 44 anos, nasceu em São Benedito, na Serra Grande, Benemaria Barbosa de Oliveira Sousa, a motorista de transporte público que trabalha desde os 16 anos de idade, tem um filho de 25 anos, acorda às 6:30 da manhã e faz todos os deveres de uma dona de casa antes de começar sua rotina no trânsito “Meus hábitos pela manhã é varrendo, passando e fazendo almoço pra poder pegar a segunda jornada. A segunda jornada é cansativa e puxada, mas vale a pena.” Afirma Benemaria.

 

O amor pela direção de ônibus é um afeto hereditário, seu pai é motorista, ela e seus irmãos seguiram a profissão do pai, apenas a sua irmã não quis seguir o mesmo rumo profissional. Antes promotora de vendas e hoje motorista, Benemária tem muito prazer pelo que faz, um amor que aumenta a cada dia, e que a faz se sentir grata pelo seu trabalho. Perguntada pelo momento mais especial vivido na profissão, ela nos conta que seu aniversário surpresa feito por passageiros diários foi o mais inesquecível “O meu aniversário, que aconteceu as 17 horas do dia 31 de agosto de 2017,  meus passageiros encheram o ônibus de balão, levaram torta, fizeram aqui meu aniversário, teve presente e foi bem gratificante para mim.”

 

Considerada uma dos motoristas mais generosas da linha, Benemária considera seus passageiros mebros de sua família, a convivência diária já quebrou a barreira de “profissional e dependentes”, ela sabe cada características dos seus viajantes, inclusive, os pontos de partidas e de chegadas, principalmente dos idosos, que a esperam vir para poderem pegar o ônibus. ‘’eles esperam para virem comigo, pois eu os espero subir e descer, já que os idosos não tem mais a mesma agilidade que nós temos’’.

 

Diferente das outras entrevistadas, Benemaria não frequentou a escolinha e entrou diretamente como motorista na empresa em que trabalha atualmente, pois já tinha experiência como motorista de van. Trabalhando há nove anos na mesma função, Benemária não escapou dos preconceitos que rodeiam as mulheres motoristas “Já me falaram que mulher o volante é um perigo ou sempre surgem olhares no sinal que significam ‘como essa mulher consegue dirigir um veículo desse porte’, porém isso não me abala”. Esse tipo de evento maldoso é bem comum entre as motoristas de ônibus coletivo em Fortaleza, as piadas e  gozações em relação ao cargos delas, alguns chegam a ser grossas ou fechadas para evitar esse tipo de aborrecimento. Para Benemária, o que falta para vermos um maior empoderamento feminino na profissão é o medo, que impede diversas mulheres de seguirem o seu objetivo. ‘’É ter coragem, sabe? Pois ainda é um tabu, e a gente tem que quebrá-los, também tem que ter muita responsabilidade e atenção.’’

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Socorro

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"Eu fiz a escolha CERTA!"

Aos 47 anos, Socorro também se divide entre o trabalho e os cuidados com sua família. Ela relata que, quando decidiu se tornar cobradora de ônibus, não recebeu muito apoio porque sua família tinha receio por ela, e que se surpreenderam com seu desejo seguido de se tornar motorista. “Ninguém queria que eu fosse trabalhar como cobradora e se surpreenderam quando quis ser motorista, mas eles sabiam da minha garra”, contou.

 

Apesar de se dar bem com todos em seu trabalho, Socorro não nega a existência de preconceitos e machismos enfrentados por ela em sua profissão. A motorista revela que já passou situações complicadas e que já foi tratada com indiferença por colegas de trabalho, mas assume que as consequências não foram maior que seu desejo de seguir na profissão. “Eu fiz a escolha certa”, Afirma. Mesmo com as adversidades, é uma motorista que, em nove anos de trabalho nunca sofreu colisões de trânsito. “Existe uma câmera dentro de cada ônibus e elas provam as inúmeras vezes que eu livrei meus passageiros de acidentes”. Admite Socorro.

 

Socorro também revela que passageiros se assustam quando entram no ônibus e se deparam com ela, uma mulher, conduzindo o veículo. “Alguns ainda ficam assustados, parece que viram algo de outro mundo, alguns falam que é a primeira vez com uma motorista mulher e que acham bem legal, tiram foto e tudo”, revelou. A motorista também declara sobre a satisfação que tem em trabalhar na empresa.“É uma empresa muito boa para trabalhar, principalmente para a mulher”.

Leninha

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Apesar do preconceito e de sempre ser uma das poucas mulheres no curso e na profissão, ela diz que nunca pensou em desistir

Há 14 anos, Antônia Lenir Sousa Da Silva, 46 anos, foi ao Serviço Nacional de Emprego (SINE) em busca de trabalho, foi chamada para uma seleção e, em seguida, foi aprovada para o seu novo emprego, o de cobradora de Ônibus. Por sempre ter gostado de trabalhar com pessoas, Leninha, como é conhecida carinhosamente, passou a admirar outra profissão, a de motorista de Ônibus. Ela então iniciou um curso, no sest senat, para entrar no ramo da profissão. ‘’Eu admiro muito, apesar do estresse, é uma profissão muito importante e eu tenho muita admiração mesmo, aprendi a respeitar e admirar convivendo, e a cada vez mais eu tinha mais vontade e até que me encaixei na escolinha e to aqui, se Deus quiser vou conseguir ser motorista.’’, afirma Leninha.

 

Perguntada sobre a questão da pouca quantidade de mulheres na profissão, ela acrescentou que no curso onde ela está, o número é quase nulo, e o motivo, é o mesmo: o preconceito. Apesar desse problema que existe muito na profissão que ela quer seguir, infelizmente, a cobradora explica que isso só a motiva ainda mais. “Quanto mais me dizem isso, mais me motiva, mais eu tenho vontade de ser motorista’’.

 

Na empresa onde trabalha,  somente duas mulheres estão como motorista, enquanto o número de homens na profissão chega a 383. O curso, feito no Sest Senat, que tem duração de um mês e meio, é o de transporte coletivo, onde é ensinado para os futuros condutores cuidados e regras fundamentais para fazer o transporte de passageiros da forma mais segura possível. Depois disso, o aluno passa para uma escolinha que a própria empresa oferece para ter as aulas práticas, que também tem duração de um mês e meio. Com as aulas práticas, o instrutor aplica um teste para saber se a condutora, no caso, está apta para dirigir um ônibus.

 

Apesar do preconceito e de sempre ser uma das poucas mulheres no curso e na profissão, ela diz que nunca pensou em desistir, ao contrário, está muito perto de conseguir conquistar o objetivo. ‘’Se eu fosse desistir pelos nãos que eu levei, eu já teria parado a muito tempo. Quanto mais me criticam, mais vontade de conseguir eu tenho.”

 

Leninha é a prova viva de que com determinação você pode chegar no lugar que sempre almejou e é por isso que ela é uma grande mulher, não desiste fácil dos seus sonhos.  

“Eu acho que a mulher não deve desistir do sonho, dos desafios, mesmo que você leve um não, não diga que não vai dar certo, você teime e diga sempre que vai dar certo.’’

Socióloga: Mikaelly Lira

"O empoderamento feminino promove a equidade de gênero em todas as atividades sociais. Ele dá poder e fortalecimento às mulheres ajudando-as a assumir seu poder individual". É assim que a cientista social e feminista Mikaelly Lira descreve o empoderamento feminino. Para ela, é fortemente perceptível a ausência de mulheres na profissão de motorista de transportes. "Como uma pessoa que também anda de ônibus, posso afirmar que não me recordo da última vez que peguei um coletivo com uma motorista no volante. E já ouvi pessoas falarem que, quando pegam um ônibus com uma mulher dirigindo, eles preferem esperar outro transporte", relatou Mikaelly.

 

A cientista relata sobre o preconceito em ambas as partes, entre o homem e a mulher na profissão. Para ela, o pensamento de que a mulher não foi feita para serviços mais pesados ainda paira estagnado em boa parte da sociedade. "Isso acaba criando um preconceito não só do sexo masculino. Motorista de ônibus é visto como um trabalho masculino, então quando se tem uma mulher dirigindo, é possível ouvir suposições acerca daquela pessoa".

 

Mikaelly ainda aprofunda sobre a questão do preconceito enfrentado por mulheres que decidem encarar o mundo, mesmo com críticas e dificuldades, em busca da realização pessoal. "Ninguém pergunta para um motorista homem se ele tem filhos, se ele é casado, se ele realmente queria ser motorista ou se ele está ali por falta de um serviço mais 'apropriado' para ele. São perguntas constantes para mulheres que não exercem papéis socialmente imposto à ela", contou.

 

Analisando a fala da motorista Socorro, a cientista não acredita que existem mulheres machistas, mas que elas reproduzem o machismo que são vítimas. "Muitas mulheres acabam desanimando em procurar esse tipo de serviço, pois sabem que não vão precisar passar apenas pelos perigos que homens passam, mas que também vão precisar passar por uma série de julgamentos diários vindo de todos os lado", apontou Mikaelly.

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O empoderamento dá poder e fortalecimento às mulheres, ajudando-as a assumir seu poder individual

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